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Sobre Conservadorismo Sec XVII na Vida das Mulheres

Foto do escritor: Patricia SilvaPatricia Silva

Para ilustrar a ideia de conservadorismo no sec. XVII, trouxe a narrativa do Filme “A Letra Escarlate" (título original The Scarlet Letter, direção Roland Joffé).

Em 1.666, Hester Prinne (Demi Moore) casada com o médico Roger Prinne (Robert Duval), chega a cidade de Massachussetts, Bay Colony, a pedido do marido. Ela desembarca primeiro ao condado, afim de providenciar uma casa e o que fosse necessário para a estadia do casal naquele lugar. Existia uma esperança de que essa nova terra proporcionasse uma liberdade de credo, onde se pudesse viver sem medo nem perseguições. Ela era uma mulher que possuía costumes diferentes dos da colônia, possuía um espírito questionador demais para a época, o qual conquistou também pelo contato com a literatura. Logo na chegada à colônia, já existem olhares reprovadores quanto à sua maneira de vestir. Atitudes como morar sozinha e utilizar uma banheira durante ato de se banhar, provocava um certo estranhamento nos moradores da colônia. Foi informada que as leis do condado baseavam-se em dois pilares: ordem e regras. Escolheu uma casa mais afastada da cidade entre as montanhas e o mar onde pudesse plantar e viver em harmonia.

Hester se apaixona por Arhur Dimmesdale (reverendo). O fato de ser uma mulher casada os impedia de se entregarem a esse sentimento, os dois se evitaram até o momento que receberam a notícia da suposta morte do médico, o esposo de Hester. De acordo com as regras ela não poderia se envolver com outro homem até que completassem sete anos da morte do marido, caso isso acontecesse, os dois seriam enforcados pelo crime de adultério. Diante disso, os dois se encontram secretamente, vivem intensamente essa paixão.

Assim como Hester, algumas outras mulheres discordavam das regras e ordens impostas aos habitantes da colônia. Uma delas, e a mais influente, é a Sra. Harriet Hibbons (Joan Plowrigth), sua vizinha. Encontravam-se para conversar, discutir religião e costumes locais, onde todas sempre deixavam claros seus posicionamentos. Por causa das suas opiniões foi levada a corte acusada de heresia, pois dizia que: “a verdadeira voz do céu não é a lei do homem, mas a imaginação dos mortais e nossos espíritos.” Além disso, foi flagrada vomitando, o que levantou a suspeita de estar grávida, o que foi confirmado durante seu depoimento aos magistrados. Foi presa por não revelar o nome do fornicador, mesmo não havendo leis contra a gravidez. Existia a Lei contra o adultério, o que de acordo com ela a morte de seu marido só seria consumada após sete anos do seu desaparecimento. Ela passa toda a gestação em cárcere e o nascimento de sua filha também acontece na prisão. Consegue a liberdade através do pedido por parte do reverendo Arthur ao governador. Necessita ir até o palanque para receber a reemenda, onde fica estabelecida a decisão de usar a letra “A” de adultera, símbolo da fornicação pecaminosa em seu peito, como prova de que sua vida estava marcada pela vergonha.

Diante de tantos acontecimentos, Hester decide sair da cidade, pois percebe que seria impossível viver em Bay Colony, Arthur não a deixa ir sozinha e vai embora com ela. Eles vivem juntos até sua filha completar 13 anos. O filme termina com a narrativa de Pearl questionando: “Quem pode dizer o que é pecado aos olhos de Deus?”

“O conservadorismo pode aumentar ainda mais quando o dogmatismo estiver convencido de que várias de suas opiniões e crenças vieram de uma fonte sagrada, de uma revelação divina incontestável e incontestada, de tal modo que situações que tornem problemáticas tais crenças são afastadas como inaceitáveis e perigosas; aqueles que ousam enfrentar essas crenças e opiniões são tidos como criminosos, blasfemadores e heréticos”. (Oliveira, 2015)

A história do filme passa em uma época em confundia-se o poder da igreja com o poder do estado. A igreja ditava as regras de conduta, todas decisões tomadas eram pautadas como vontade do “divino”, tudo se encerrava na vontade de Deus. Sinais de um Deus que é inquisidor e opressor (como alguns habitantes da colônia). Se algo acontece, foi porque Deus quis assim, ou se não, é um sinal, um aviso a respeito de sua vontade. As atitudes de inconformidade com essas normas eram tidas como crime.

Segundo Marilena Chaui (2000, p 121) “A atitude dogmática é conservadora, isto é, sente receio das novidades, do inesperado, do desconhecido e de tudo o que possa desequilibrar as crenças e opiniões já constituídas.” Percebemos a atitude dogmática das pessoas que viviam naquela vila. Eles submetiam se as regras impostas sem menor intenção de questioná-las. Vemos uma vila conservadora e intolerante. Havia uma preocupação dos aristocratas e suas famílias com os costumes trazidos pela nova habitante da colônia. Ela era uma espécie de ameaça, um mau exemplo a ser possivelmente seguido pelas mulheres ali presentes. Existia uma preocupação exacerbada por parte dos senhores aristocratas em manter uma ordem, fazem observações com relação à forma de vestir, ao fato de preferir morar sozinha (algo impensado para uma mulher na época), exigem sua presença no culto, indagam sobre o fato de tomar banho em uma banheira. Salta aos olhos um discurso machista e dominador proferido por parte dos homens.

Além do dogma e dogmatismo, A Letra Escarlate mostra como a mulher era tratada na sociedade da época, a recriminação, submissão. A mulher era culpada de grande mal e quase não podia falar. O questionamento que Pearl deixa no final de sua narração diz muito e nos gera uma reflexão diante do que vimos até aqui, este questionamento deve ser feito nos dias atuais, percebemos que o dogma é controlador, usa a fé e a submissão das pessoas ao sagrado para poder manipular e controlar, mas um controle exacerbado, que gera sofrimento.

A Letra Escarlate, transmite bem o contexto histórico da época, consegue nos passar uma visão do que se vivia no Sec. XVII, quando a igreja dominava, da forma que as pessoas eram controladas nesta época e o que este controle trazia de consequências nas vidas das pessoas.

Hoje, no entanto não mudou muita coisa, a mulher continua enfrentado atravessamentos do dogmatismo, machismo e patriarcado. Atravessamos séculos, lutamos, foram necessárias muitas mortes, para adquirir o mínimo dos direitos respeitados e ainda temos muito que enfrentar. Muitas mulheres ainda não compreenderam o tanto que foram afetadas pelo machismo, o quanto são machistas. É preciso levar consciência desses atravessamentos para muitas mulheres, pois somos que vamos gerar uma nova geração conscientes do respeito e direito de todos.


Referencias:

Letra Escarlate, A. Direção: Roland Joffé. Protagonistas: Dami Moore, Gary Oldman, Robert Duval. EUA, 1.995, 145 min. Produção: Dodi Fayed. Título original The Scarlet Letter.

OLIVEIRA, J. A, Dogmatismo e busca da verdade - A origem do dogma. Anotações de sala de aula, FEAD, 2015

CHAUI, M., Convite à filosofia. São Paulo: Atica, 2000. p, 116-122.

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